quinta-feira, 10 de julho de 2008

· Tom Peters"American Airlines passasse a servir apenas uma azeitona nos martinis, em vez de duas. Com isso poupou-se 7560 contos, o que não são trocos. O problema das melhorias graduais é que o caminho para a revolução não se encontra comendo azeitonas" .

Ninguém sabe nada . Eu não tenho uma teoria do Universo, não confio em ninguém que tenha uma teoria do Universo, nem respeito ninguém que tenha uma teoria do Universo. O mundo está a ser completamente reinventado. Por pura coincidência, as pessoas que estão nesta sala (presidentes de empresas norte-americanas) têm uma responsabilidade fenomenal. Não é uma audiência nova e, para pôr o assunto de uma forma ligeira, vocês não estão preparados. Eu, Tom Peters, tenho 54 anos. Sou como um monge a trabalhar nas minhas iluminuras quando um jovem segreda ao meu ouvido que Gutemberg tem uma alternativa melhor. Pensei muito acerca do tema do meu discurso e decidi-me por "Ninguém sabe nada".
Há cerca de cinco meses estive em Orlando a falar para uma das 15 mil associações de comércio americanas e, em teoria, a que tem mais receitas dentro das suas quatro paredes, a Associação Internacional de Grandes Superfícies. Na fila da frente estavam uma dezena de pessoas que eu conhecia e dei-lhes os meus parabéns porque nos passados 15 anos reinventaram literalmente o mundo. Podem adorar a Wal-Mart, podem odiar a Wal-Mart, não faz muita diferença. Todas as lojas fazem o que a Wal-Mart começa a fazer. Depois fiz uma pergunta dirigida aos crédulos: pensam que nos próximos 15 anos o mundo vai ser mais suave do que nos 15 anos passados? Esta é, obviamente, uma pergunta estúpida. Olhei fixamente para o presidente da Wal-Mart e perguntei: então digam-me por que é que pensam que as vossas empresas ainda estarão aqui dentro de 15 anos. Claro que é um exagero. Existem apenas dois requisitos para qualquer empresa sobreviver hoje: uma agilidade fenomenal e uma falta de arrogância chocante.
Há algum tempo Nicholas Negroponte, do MIT, disse que as melhorias graduais são o pior inimigo da inovação. Penso que vi esta frase há seis ou sete meses e, honestamente, ela tem-me impedido de dormir descansado. A maioria de vocês tem provavelmente estado a brincar com a ideia japonesa de Kaisen (melhoria contínua), que torna todas as pessoas responsáveis por fazer tudo melhor do que ontem. É uma boa ideia. A única parvoíce é que surgiu como uma nova ideia há 20 anos. A única interpretação possível que vejo para esta frase de Negroponte é que, se se está a passar 85% do tempo a tentar fazer as coisas melhor do que se fez ontem, então não se está a passar 85% do tempo a criar coisas novas. É pior do que isso, porque o programa mental da pessoa que faz melhorias, o seu estado emocional, é antagónico ao estado emocional do destruidor.
Li que na American Airlines alguém sugeriu que se reduzissem as azeitonas servidas nos martinis de duas para uma. Pouparam 7560 contos, o que, mesmo para esta empresa, não são trocos. O problema é que o caminho para a revolução não se encontra comendo azeitonas.
O que é que se faz quando se é uma grande empresa zonza e sem ideias? Faz uma fusão com outra grande empresa zonza e sem ideias para juntas irem a lado nenhum. Foi o que agora fizeram as consultoras que consideraram que serem seis (conhecidas como as Big Six) era um número demasiado grande. As Intels do mundo cresceram de dentro. Não é assim tão difícil dividir uma grande empresa em pequenas empresas. A AT&T, a Kodak, a Sears, a PepsiCo, a General Motors ou a Monsanto, entre outras, fizeram-no.
Não advogo que "small is beautiful", que se pode ter uma empresa a competir no mercado global a partir de uma garagem em Palo Alto, California. O que pretendo frisar é que não há uma organização gigante que seja flexível. A Wal-Mart é gigante, mas é apenas um pouco mais flexível do que as antecessoras. O que digo não é politicamente correcto, mas não me ralo nem um bocadinho.

TT-05/08
José Silva

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