sábado, 26 de julho de 2008

A Linguagem e o Pensamento

Sendo o homem um ser social por excelência e que tem, por isso, a necessidade imperiosa de comunicar aos seus semelhantes o que sente e o que pensa, e de saber o que eles sentem e pensam também, para exprimir o que se passa na sua consciência e para saber o que se passa na dos outros, serve-se da linguagem, que mais não é do que um conjunto de sinais com que exteriorizamos os nossos estados de consciência e interpretarmos os dos outros. Para isso empregamos duas espécies de símbolos, uns naturais e outros convencionais. Os naturais traduzem imediatamente, isto é, sem qualquer aprendizagem, o facto a evocar. Assim o grito significa dor; o riso, alegria; o dedo no nariz, imposição de silêncio. Os convencionais evocam os factos que significam, por meio duma relação arbitrária e são um produto da civilização humana e implicam aprendizagem.

Como não há relação de semelhança entre o sinal e a coisa significada, o homem tem a liberdade de inventar esses sinais à vontade. Os símbolos da Álgebra, as notas musicais, as letras do alfabeto e até as próprias palavras são disso casos bem evidentes. Tais sinais não têm por si qualquer significado; o que lhes damos foi-lhes atribuído arbitrariamente.

Sendo as palavras o símbolo a que se atribui um significado, pois sem isso ela torna-se oca, vazia e inútil, ela só tem valor na medida em que se evoca o conteúdo mental que lhe corresponde. Por isso, linguagem e pensamento, acompanham-se e auxiliam-se mutuamente. O pensamento procura na linguagem a maneira de se exprimir e, por sua vez, a linguagem dá forma ao pensamento, fixa-o e consolida-o. No entanto aquele precede esta, porque, só depois de se criar uma ideia é que se inventa o termo que lhe há-de corresponder. Portanto é o pensamento que atribui significado às palavras, que as divide em categorias, que as relaciona e que regula a sintaxe. Por outro lado uma ideia sem o seu termo é como uma folha solta ao vento. Voa, desaparece. A palavra fixa a ideia, conserva-a, põe-na, por assim dizer, à nossa disposição, tornando-a um instrumento útil de que nos podemos servir sempre que queiramos.

Todavia, a linguagem embora exteriorize o pensamento, também o pode ocultar e deturpar com o fim de induzir os outros em erro, logo também tem os seus perigos.

As ideias concebidas pelo nosso espírito, claras, nítidas, encontram sempre os termos que as hão-de representar. No entanto, tal não acontece, muitas vezes, quando aceitamos ideias estranhas sem qualquer esforço de elaboração, isto é, sem irmos até ao ponto de partida e percorrermos o mesmo caminho que percorreram as pessoas que originariamente as conceberam. Aceitamos as ideias, já feitas, sem qualquer trabalho de análise. Ficámo-las conhecendo, por assim dizer, superficialmente, no seu aspecto exterior, sem penetrarmos na sua essência, no seu íntimo. A esta imprecisão das ideias corresponde a impressão dos termos que não saberemos empregar com rigor, com propriedade. Disso são um bom exemplo, muitos debates, seja no parlamento ou na comunicação social, em que assistimos a chorrilhos de asneiras e de incoerências no discurso produzido, saltando à vista que estão a ser utilizadas ideias produzidas por outros, que não dos seus intérpretes, chegando a meter dó as tristes figuras a que se sujeitam estes personagens. Além disso, em alguns programas dos nossos meios de comunicação social, são colocadas questões aos ouvintes, tão estúpidas e descabidas, como se estivéssemos num país de mentecaptos, que ainda vêm contribuir mais para aumentar a ignorância daqueles que sustentam as audiências, basta ouvir as suas respostas. No caso da comunicação social, ficamos com a ideia que estamos a navegar ao sabor da maré, sem pessoas habilitadas para conduzir este barco. São cenários, tão tristes e deprimentes, que faço o máximo de esforço para não pensar demasiado neste assunto, mas que, infelizmente, reflectem a situação do nosso país, pelo que não consigo alhear-me do mesmo.

Por outro lado, o ensino feito com abuso do livro contribui também para situações idênticas. A ciência já feita e já expressa em linguagem apropriada leva-nos à preguiça mental de aceitarmos, sem mais exame a doutrina do compêndio. É o ensino feito através da linguagem e dessa não passa. É um falso saber, porque todo o trabalho intelectual de comparar, generalizar, abstrair, induzir, deduzir, fica por fazer. O espírito armazena mas não elabora ou, segundo Montaigne, as cabeças ficam bem cheias mas não bem feitas.

“Pensar é o trabalho mais difícil que existe, e esta é provavelmente a razão por que tão poucos se dedicam a ele” Henry Ford

Grupo TT05/08 Delcio Vieira

Sem comentários:

Enviar um comentário