terça-feira, 8 de julho de 2008

AS FEIRAS e a sua história

Terminou, neste fim-de-semana, a Feira de São Pedro em Torres Vedras.

Esta feira, inicialmente denominada Feira da Vila de Torres Vedras, teve o seu inicio em 1293 e foi concedida por D. Dinis, a pedido da rainha D. Beatriz, por carta datada de Lisboa, em 20 de Março, realizava-se anualmente e tinha a duração de um mês: de 1 de Maio a 1 de Junho. Em 1521, no reinado de D. Manuel, foi-lhe atribuído o epíteto de S. Pedro.

A história da humanidade está repleta de referências a feiras. Não se sabe ao certo onde e quando apareceu a primeira feira, no entanto há dados que nos permitem afirmar que em 500 a. C. já haviam feiras no Médio Oriente, nomeadamente em Tiro.

As primeiras referências a feiras aparecem misturadas com referências ao comércio, às festividades religiosas e aos dias santos. As feiras sempre revelaram um carácter comercial desde o início. Mercadores de terras distantes juntavam-se, trazendo os seus produtos autóctones para trocar por outros. É também evidente, que a religião andou de mãos dadas com o comércio. A palavra latina feria, que significa dia santo, feriado, deu origem à portuguesa feira, à espanhola feria e à inglesa fair.

Após a decadência do Império Romano, as feiras medievais representaram o momento no qual ressurge o comércio na Europa, no final do século XI. A Europa saia do feudalismo, no qual as pessoas viviam em territórios limitados, nos quais produziam tudo o que precisavam, sendo que quando algo faltava, o conseguiam através de trocas. No entanto, as Cruzadas reabriram o caminho pelo mar Mediterrâneo e possibilitaram aos europeus um maior contacto com o Oriente, de onde traziam mercadorias raras e exóticas (cravo, canela, seda, porcelana), muito cobiçadas no Velho Continente. Neste momento, podemos falar no renascimento comercial, uma vez que essas mercadorias eram trazidas e fizeram com que o dinheiro, até então entesourado, retornasse a circulação.

Estes produtos começaram a ser vendidos nas feiras que surgiram nas cidades que renasciam. Como essas novas cidades foram chamadas burgos, em virtude dos seus muros fortificados, os habitantes das cidades tornaram-se os burgueses, termo que posteriormente se aplicou somente aos comerciantes enriquecidos com a sua prática.

Durante a realização das feiras medievais interrompiam-se guerras, a paz era garantida para que os vendedores, dispostos lado a lado, pudessem trabalhar com segurança. Da mesma maneira, guardas vigiavam todo o perímetro de modo a evitar que algum desordeiro pudesse causar incómodos àqueles que por ali passavam e desejavam efectuar suas compras. Os mercadores medievais realizavam as transições comercias intermediavam trocas numa actividade eminentemente itinerante.

Enquanto dezenas de saltimbancos, fazendo malabarismos, procuravam divertir o povo que se movia de barraca, prosseguindo nas compras.

As feiras medievais foram instaladas em locais estratégicos, como o cruzamento de rotas comerciais, e algumas chegaram a ter abrangência internacional.

O renascimento do comercio tornou necessário o uso do dinheiro, pratica que havia desaparecido quase que totalmente nos séculos anteriores. Nas feiras, como havia pessoas que vinham de vários lugares, havia uma grande variedade de moedas em circulação, o que desenvolveu os bancos e o câmbio.

Em Portugal, quase todas as feiras se realizavam em épocas relacionadas com festas da Igreja e, no local onde se faziam, existia uma paz especial, a paz da feira, que proibia todos os actos de hostilidade, sob penas severas em caso de transgressão.

A primeira menção uma feira portuguesa vem registada no Foral de Castelo Mendo de 1229 que se realizava três vezes no ano, durante oito dias de cada vez. Todos os que a ela concorressem, tanto nacionais como estrangeiros, teriam segurança contra qualquer responsabilidade civil ou criminal que pesasse sobre eles. Entre os privilégios que mais favoreceram o desenvolvimento das feiras portuguesas há que mencionar o que isentava os feirantes do pagamento de direitos fiscais, nomeadamente portagens, a que se dava o nome de feiras francas.

A partir do reinado de D. Afonso III (1248 – 1279) multiplicava-se o número das ferias e ampliam-se as garantias e os privilégios jurídicos concedidos aos feirantes. O fomento do comércio interno por meio da instituição de feiras teve como consequência o aumento populacional de determinadas zonas pouco povoadas, para alem de engrandecer os rendimentos da coroa.

Durante o reinado de D. Dinis (1279-1325) activa-se o impulso dado anteriormente. O Entre Douro e Minho, a Beira e até o Alentejo cobrem-se de feiras, nomeadamente de feiras francas.

A partir do reinado de D. Fernando (1357-1367) a situação começa a alterar-se. Primeiro, foram as sucessivas guerras com Castela que prejudicaram grandemente o comércio ambulante. De seguida, a resolução de 1383-85, que teve como consequência um reforço da protecção real aos comerciantes das cidades e vilas em detrimento dos mercadores ambulantes.

Apesar de, em 1528, ter sido concedida uma feira franca a Vila Viçosa e, em 1576, à cidade do Porto, parece poder considerar-se o fim do século XV como o período de enfraquecimento da importância das feiras em Portugal. As cidades e vilas, desenvolvendo-se e prosperando, serviam mais adequadamente os interesses e as necessidades económicas da comunidade do que as feiras. É natural que esse declínio se acentuasse no século XVI, quando Portugal brilhou como potência marítima e ultramarina, quando o grande comércio se concentrou definitivamente nas cidades portuárias do litoral. A partir do reinado de D. Manuel I (1495-1521) as feiras entraram em decadência.

No século XVIII ainda se instituíram feiras. Em 1721criou-se no Porto uma feira franca de fazendas e animais. Em 1776, durante o governo do Marquês de Pombal, realizou-se em Oeiras, durante três dias, uma feira a que podemos chamar a primeira feira industrial portuguesa, com representação de todos os produtos da indústria nacional da época.

Apesar de todas as vicissitudes, algumas feiras tradicionais sobreviveram até aos nossos dias.

Delcio Vieira

Grupo TT06/08

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