quinta-feira, 4 de junho de 2009

" O PORQUEIRO "

Emílio Moitas, em Novembro 2007, diz:

Guardador de Porcos no Alentejo
As herdades alentejanas são um autêntico mundo
de magia, povoadas por homens e mulheres que
nelas nascem, crescem, vivem, choram e riem,
amam, envelhecem e morrem, sempre com um
apego indizível à terra que "é tão humilde, que
até se deixa pisar... e tão nossa Mãe que nos dá
o pão de cada dia".
O centro de toda a actividade agrícola é o Monte,
pequeno aglomerado onde patrões e criados
vivem e comungam o mesmo gosto pelo cheiro e
pelo sabor da terra muitas vezes madrasta, mas
invariavelmente exercendo o seu apelo telúrico
sobre os que dela vivem e nela trabalham.
Lavradores, "mourais", "carreiros", "ganhões",
etc, todos se dão as mãos, unidos no mesmo ideal
de colaborarem, cada um a seu jeito, na obra da
Criação.
E se o Monte é, na verdade, a casa-mãe donde
tudo irradia, as suas dependências e anexos
também merecem a nossa atenção, na medida
em que fazem parte de um todo que se não pode
dissociar, sob pena de se perder.
Em redor dos Montes estão sediados os
galinheiros, o bardo das cabras, a malhada das
porcas, etc.
Pelos campos as eguadas pastam sob a vigilância
eguariços; as vacadas são atentamente
conduzidas pelos vaqueiros; os rebanhos
cuidados pelos pastores; as cabradas estão ao
cuidado dos cabreiros e assim por diante.
Os porcos alentejanos são criados em "varas",
à solta pelos montados, alimentando-se de ervas
e pastos, mas sobretudo das bolotas e landes que
as azinheiras e o sobreiros são pródigos em produzir.
Dentre as bolotas, as de azinho são mais nutritivas;
mas a azinheira produz uma única camada destes
frutos secos, oleosos, de cor castanha e formato
oblongo.
O sobreiro produz três camadas: o bastão, a lande
e a janeirinha, que se distinguem pelo tamanho e
pela época em que aparecem; o bastão surge aí
por Outubro a Novembro; a lande, que constitui
a melhor camada, amadurece em Dezembro e a
janeirinha, como o nome indica nasce em Janeiro.
E o porqueiro, com o seu azurrague de
cabo de azinho a que prende enorme fita
de couro, lá vai tocando a vara, colocando
também os respectivos arganéis nos
suínos mais viciados em fossar.
Curiosamente, os porqueiros são os
"mourais" mais aprumados e mais
asseados, o que facilmente se nota no
vestuário e até nos aparelhos das burras
em que se fazem transportar.
Os porqueiros também têm a sua
hierarquia:
O Maioral - moural, no dizer popular

- que é o chefe; segue-se depois o
"entregue" das porcas parideiras;
o "farroupeiro", que tem por missão
guardar os farroupos e o "vareiro",
que percorre os campos com a "vara".
E calcorreando montes e vales os suínos, em
retoiça, devoram com avidez a "boleta", base
fundamental da sua alimentação e que confere
à sua carne um sabor que os próprios deuses se
não cansam de elogiar.
Mas, se a "vara" percorre os montados, as
marrãs paridas recolhem à malhada onde, a
coberto das intempéries, melhor cuidam dos
bacorinhos, que os parem aos sete e aos oito de
cada vez.
As mais antigas "malhadas das porcas" pouco ou
nada terão a ver com as "furdas", "pocilgas" ou
"chiqueiros" existentes em quase os quintais da
gente pobre das aldeias.
Estes espaços albergam um ou dois "bácoros"
que o ganhão adquiriu por baixo preço ou que
até lhe ofereceram; vai-os alimentando com os
restos da sua parca mesa, com algumas ervas
que apanha pelos campos, com abóboras ou
morangos e também com alguma bolota que
apanha nas azinhagas e carreteiras por onde
transita quando vai para o trabalho, mais
normalmente no regresso a casa, quando o sol
já passou há muito a linha do horizonte.
É o "mealheiro dos pobres", pois, bem
aproveitadas, as carnes do gordo suíno, têm
que dar para o ano inteiro.
Mas, voltando à "malhada das porcas", o cheiro
já se faz sentir...
Edificação rústica, primitiva, tem forma cónica e
coberta de piorno, giestas, folhas de eucalipto e
ocados de arbustos. As mais recentes já são de
"alvenaria", com telha mourisca ou folhas de
zinco a servirem-lhe de tecto.
Servem estes espaços toscos para a criação e
pernoita dos suínos, bem como do próprio
porqueiro.
Por via de regra existe mais do que uma
malhada em cada exploração agrícola,
ependendo do número de porcos que, por sua
vez, é directamente proporcional à área da
herdade.
O seu interior compõe-se de um corredor a meio,
que dá acesso às diversas divisões laterais, onde
as marrãs parem e amamentam as suas crias,
ficando então sujeitas a uma alimentação
suplementar à base de cevada ou aveia,
(deitada nas "gamelas" ou "maceirões" com o
intuito de produzirem mais leite e, por,
conseguinte melhor alimentarem a ninhada.
Após cada "afilhação" e com os bácoros já em
condições de irem fazendo pela vida, a malhada
é muito bem lavada, caiada com cal branca e
desinfectado com criolina, para que não fiquem
por ali micróbios ou outros parasitas que
posteriormente causem dano às seguintes
habitantes.
A "malhada das porcas" é, pois, uma espécie
de maternidade onde as Rainhas do Montado
parem aqueles que, num amanhã mais ou menos
próximo, hão-de servir de suporte alimentar do
Povo Alentejano.

In: Jornal Fonte Nova-Edição nº 1505 -
17 de Novembro de 2007


P.S.:Para informação dos meus caros
colegas, do TL 02/09.

José Santos TL 02/09-
Papagovas 4 de junho 2009.

1 comentário:

  1. Colega e amigo José Santos , começo por lhe dizer que a carapuça, serve a quem a meter na cabeça, mas já fiz perante a sua afirmação na aula, sobre o meu ponto de vista, sobre as suas afirmações, acerca do "Porqueiro" , quero mais uma vez deixar espelhado neste comentário que não sou advogado de defesa, nem ninguém me encomendou o sermão, mas amigo, temos de saber ser moderados nas palavras, pois não revejo a pessoa a que se refere o seu comentário, neste pequeno trecho descrito no Jornal, criou mau estar na turma, é verdade, não sabem ser alunos adultos e comportados, mas cada pessoa é resposável pelos seus actos.
    Entenda este comentário como construtivo e vamos levar a água ao nosso moinho , boas aulas.....
    Em Julho voltarei ao vosso convívio até lá deixe o "Porqueiro" em casa ou em seus comentários particulares

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